Há tempos quero conversar algumas coisas com vocês, mas a vida tem sido como nos avisa Guimarães Rosa, esse esquentar e esfriar, apertar e afrouxar, sossegar e depois desinquietar, muitas vezes mais aperto e desassossego do que o oposto… E agora que estamos organizando nossos processos de comunicação interna, que já temos o nosso Cuida!, nosso site saindo do forno, além de outras várias ações na agulha, chega a hora de começar a resolver esse débito de conseguirmos desenvolver um contato mais fluido, no qual estejamos mais presentes nas vidas uns dos outros.
O que eu gostaria mesmo era de poder olhar cada um de vocês nos olhos, trocar energias quânticas em tempo real, alinhar vibrações pela proximidade de nossos corpos, mas nem a própria pandemia, nem o fato de eu mesmo ter contraído a Covid-19, nos permitem esse encontro agora.
Mas o fato é que somos uma comunidade de famílias, convivendo e vivendo juntos, apoiando uns aos outros enquanto prestamos serviço público de excelência, e esse é o sentimento que me mobiliza. Formamos um corpo que foi crescendo aos poucos. Talvez a maioria tenha chegado mais recentemente, mas temos pessoas que chegaram há bastante tempo na Escola – vinte, quinze, sete, cinco anos – e que foram nossos anfitriões quando chegamos em 2019 cheios de sonhos e ideias.
Então esse esporo de inovação, nascido da missão de promover felicidade e transformar a realidade, está fazendo agora um ano de existência concreta, refletida em entregas de muita relevância para a saúde do Ceará. E que ano! Fiz um exercício para recuperar algumas informações sobre o que estávamos fazendo em março de 2020, e encontrei áudios cantando e comemorando algumas pequenas vitórias, e nos planejando para o futuro que imaginávamos que teríamos.
E agora, falando diretamente do futuro que tivemos, gostaria de mais uns minutos da atenção de vocês para iniciar nossa conversa falando sobre dois pontos:
Primeiro é que eu gostaria de dizer sobre como está massa, incrível, esse momento do FeliciLab. A entrada de pessoas, que ativou o PubliciLab, fortaleceu o DesignLab, e está dando dinâmica e organização aos times. Me sinto ótimo de perceber essa conquista de autonomia, a ativação dessa rede de colaboração, dessa autogestão, e ver como isso está funcionando. Essa coesão, que começa a se manifestar mais claramente agora, precisa ser cuidada, alimentada, favorecida.
Saímos de um processo de gestão horizontal de doze pessoas, em março do ano passado, re-aprendemos a nos organizar com a entrada da ThoughtWorks (mais de 30 pessoas), e com a saída dela ficamos com o legado para seguir numa melhor estruturação dessas frentes de trabalho, desses times, que estão se afirmando com mais clareza a cada dia. Agora temos um timão grande, com vários times menores, e caminhamos para integrar essa unidade e retomar essa horizontalidade.
A forma como estamos nos propondo a fazer isso é através da ativação de um Grupo Tático, com encontros regulares de trocas de experiências com cada um desses times, para assim tomar as decisões estratégicas.
Esse grupo tático é composto, além de mim, por: Clarisse, que é gestora das narrativas e lidera o PubliciLab; Washington, gestor das estratégias digitais e lidera o DesignLab; Camila, que é gestora de projetos e lidera o DataLab; Victor, gestor de tecnologias e lidera o devLab; e Helen, que é gestora administrativa e chefa de gabinete do NIT.
Esse grupo tático é quem vai, em conjunto, tomar as decisões. E faço um pedido a vocês: quero ser cobrado pela horizontalidade, individual e coletivamente. Porque a verticalidade é uma tentação, facilita muito a vida, e em alguns períodos específicos é necessária, mas ela também não pode se perpetuar além do necessário.
Precisamos estruturar uma forma dialógica de estabelecer todas as nossas decisões. Todos têm sofrido um conjunto de decisões verticais, e isso tem a ver com o ritmo de guerra que vivemos com a pandemia, mas precisa mudar. Precisamos conseguir otimizar as entregas através da melhoria na qualidade de vida das pessoas que estão no time, e não o contrário.
E o segundo ponto é expressar sobre a dureza deste ano que passou, e que sei o quanto alguns de nós estão bastante cansados. Uns mais, porque já entraram há mais tempo, e outros menos, mas também já desgastados porque entraram num bonde onde estava todo mundo esgotado, e isso acabou pesando um pouco mais na chegada das novas pessoas.
Digo isso para afirmar que também estou cansado pra caramba. Tenho estado muito estafado, acho que todos perceberam. Exaustão de quem acumulou muitas coisas, pegou muitas demandas para fazer sozinho, porque no passado foi assim que precisei agir. Agora sei que não preciso mais. E comecei dizendo do quanto acho que nossa comunicação não está muito fluida, mas sei que isso tem a ver com um adoecimento mesmo, tanto meu, pessoal, como coletivo, de todo mundo.
E, na verdade, não é só falta de comunicação, né? Mas também o excesso, em muitos níveis, e a reflexão, que é a principal comunicação, deixou de ser feita como deveria. Aquela comunicação do tete-a tete, do dia a dia, das dailys, que fazíamos com doze pessoas, e que todo mundo sabia cada unha encravada um do outro. E o quanto isso é, foi, e continuará sempre sendo importante para a gente se estruturar enquanto time, enquanto núcleo, que tem essa complexidade de laboratório de pesquisa e inovação parido antes do núcleo institucional em si.
Então quero pedir desculpas para todo mundo, especialmente para quem ficou mais próximo. Mas também para quem ficou distante, porque afinal a gente peca bastante por não conversar tanto, como o Wanderley, a Luanna, o Rui, o Chicão, a Samara, a Mayara, e o próprio Ítalo, que eu nem quero falar da falta que vai fazer porque já me dá é vontade de chorar 😢 😭… A forma como essa comunicação deixou de ser feita é foi algo muito ruim, mas estou confiante sobre a nossa capacidade de corrigir isso de agora em diante.
E por esses e outros motivos que eu já ia [e agora vou] tirar férias, para descansar, me curar e me distanciar um pouco. Vou fazer uma viagem marcada há mais de um ano, pra encontrar com a minha família que nao vejo há 3 anos.
E quero compartilhar que vinha sofrendo por fazer isso com muita culpa, com insegurança, por deixar vocês “sozinhos”. Até perceber que essa era uma reflexão que eu precisava fazer, sobre confiança. E fazendo isso, entender que justamente o que ia me deixar tranquilo para viajar era esse time maravilhoso que conseguimos formar com todos os acasos, editais e etcs. Não viajei quando planejei, adoeci, e a reflexão terapêutica, antropológica e biográfica ficou ainda mais carregada de sentidos.
Sigo agora com o calendário de férias e essa escala terá continuidade, para que todos gozem de seus direitos. Rafa já tirou, Victor também, e agora (amanhã , 17/03) saio eu. Vai ser bom para me recuperar, renovar as energias e para proporcionar uma desaceleração pessoal e coletiva.
Então é isso: eu quero mesmo é agradecer a todes, me desculpar pelas ausências e dizer que esse ano #1anoDeFeliciLab foi maravilhoso, que valeu demais, e que tenho muito orgulho de estar nesse barco com vocês.
Até a volta, com toda a minha paixão e efervescência, que nunca vai mudar.