Fortaleza, CE

Conteúdo Recuperado para Fins de Memória e Pesquisa



“A nossa estratégia de inovação sempre foi para além do desenvolvimento de tecnologias digitais”.

Com suas licenças, recebam com afeto a segunda edição desse Fala, meu povo!, informe tático de gestão compartilhada do FeliciLab e do NIT.

Hoje ainda assino eu, Uirá, mas os próximos trarão outras vozes e outros tons, como é importante que seja. Relembrando nossa primeira edição, onde fiz uma reflexão sobre várias questões que estavam desabrochando no nosso modo de fazer as coisas, agora sigo nessa pegada de revisão do passado para compreensão do presente e projeção de futuro. Dessa vez para falar um pouco sobre os processos de estruturação do Núcleo de Inovação Tecnológica da nossa Escola de Saúde Pública do Ceará.

Veja a linha do tempo de estruturação do NIT aqui.

Em fevereiro, fez um ano que iniciamos esse processo. E hoje quero falar das delicadezas de conseguir tocar essa estruturação no meio da pandemia, que por um lado nos impediu de focar de imediato na institucionalização do NIT, mas de outro nos impeliu e nos jogou diretamente na materialização prática de uma ICT – Instituição de Ciência, Tecnologia e Inovação. Desenvolvemos ao longo desse período um conjunto de produtos e iniciativas dignas de uma ICT, inclusive já com royalties a receber.

É muito importante que nós que somos Escola, que somos o SUS do Ceará, façamos uma leitura muito positiva dessa construção, que é uma construção coletiva. Ela começa na visão do nosso secretário estadual, Dr. Cabeto, de colocar inovação no centro da estratégia para o desenvolvimento da saúde. E é impulsionada pelo nosso superintendente, Marcelo Alcântara, que é um inovador nato e também um gestor incrível, que consegue juntar todas as expectativas e visões, num equilíbrio difícil de equacionar, mas que ele tem conseguido com maestria.

Esse conjunto de fatores fez com que conseguíssemos absorver na Escola uma carga significativa de projetos de tecnologia da informação, mas não nos limitou a eles. A nossa estratégia de inovação sempre foi para além do desenvolvimento de tecnologias digitais. E o que conseguimos entregar até aqui precisa ser compreendido como resultado de uma visão e de escolhas estratégicas, uma vez que nos ápices da pandemia era mais eficiente, urgente e viável, mobilizar esforços em torno do design de serviços e desenvolvimento de softwares, por serem práticas que a Escola já exercia, com uma equipe diferenciada que estava bem situada, e que já apresentava muito resultado na área.

Minha chegada à ESP somou em capacidade de produção, em visão de futuro rumo à transformação digital, que só foi possível pela preciosa dedicação de parceiros internos e externos, como a Universidade Estadual do Ceará – Uece e a ThoughtWorks. Apoios fundamentais no início dos nossos trabalhos emergenciais pandêmicos, baseados em pessoas com tempo e conhecimentos disponíveis, e que contaram inevitavelmente com os equipamentos que já tinham em suas casas ou nos seus locais de trabalho. Esse conjunto de elementos foi essencial para o sucesso desse embrião do Núcleo de Inovação Tecnológica da ESP, que foi se materializando pela atuação prática do conjunto de projetos e pessoas que foram conformando o FeliciLab – Laboratório de Inovação da ESP/CE.

 

Desenvolvimento de tecnologias como estratégia

 

Ao entender o desenvolvimento de tecnologias como estratégia de gestão, evitamos a narrativa de que criar um Núcleo de Inovação Tecnológica é uma iniciativa separada desse processo de transformação digital do SUS e da ESP. A estruturação institucional da legislação de inovação e a propulsão de desenvolvimento de produtos e de iniciativas inovadoras pela ESP não são coisas descoladas entre si, mas completamente entrelaçadas. A política institucional só tem sentido a partir do momento em que a Escola tem essa capacidade de desenvolver e se articular com o ecossistema de inovação para conseguir impulsionar, viabilizar ou criar soluções inovadoras. E temos feito isso com uma visão diferenciada de governança colaborativa e transparência radical, criando de forma aberta e integrada, e sempre buscando uma perspectiva ampla de conhecimentos que possam ser utilizados por outras instâncias e órgãos.

O desenvolvimento do Elmo é um caso exemplar de governança colaborativa, possibilitado através de uma parceria público-privada, que foi e continua sendo fortemente apoiado pela equipe do NIT/FeliciLab, além de diversos outros setores da ESP. Esse processo inaugurou uma estratégia de desenvolvimento e inserção de tecnologias no sistema de saúde, e que agora se expande através de novas parcerias na criação de mais dispositivos e equipamentos para a saúde. Participamos desde a idealização do desenho e suas especificações, e seguimos participando da viabilização técnica e operacional dos treinamentos, assim como das estratégias de comercialização e publicização.

Por não estarmos sozinhos no papel de desenvolvimento desse produto, conseguimos aprofundar nossos estudos e descobertas na legislação de inovação tecnológica, e isso tem viabilizado todos os desdobramentos legais e comerciais que vêm sendo aplicados ao Elmo. Não esqueçamos que a comercialização de serviços para a iniciativa privada, como é o caso da venda de treinamentos para utilização do Elmo, é algo totalmente novo para a Escola, e já chegou com uma demanda muito grande, nível Jornal Nacional. E mesmo nesse cenário complexo, o Elmo tem hoje um site muito completo, utiliza-se de um sistema automatizado de gestão de relacionamento com os clientes, tem uma seção no iSUS, além de um ambiente virtual de aprendizagem. E tudo isso foi possível porque compomos a equipe de gestão do projeto na ESP.

 

Escritório de Inovação

 

Então esse conjunto de ações, dentre as quais o Elmo é um exemplo, estão se somando e ajudando a compor a experiência do que estamos chamando de Escritório de Inovação, entendendo que o Núcleo de Inovação Tecnológica será responsável pela implementação da estratégia de inovação da ESP, e o escritório cuidará da política de inovação e da gestão de propriedade intelectual, que inclui licenciamentos, processos de patente, de transferência de tecnologia, dentre outras atribuições.

E na mesma levada, a Escola prepara uma reforma para em breve apresentar, além dos já existentes Felicilab e Escritório de Inovação, o ESPace Cowork, como estratégia e espaço físico para o apoio e relacionamento com o ecossistema de inovação em saúde no Ceará.

Também é importante afirmar que nesse ano 1 o FeliciLab cresceu e amadureceu. Nos tornamos uma grande equipe de colaboradores talentosos, mobilizados através de editais que utilizam uma fonte de pagamento que se encontrava estagnada e bloqueada há dez anos, por dificuldades e burocracias na sua utilização. Estamos trabalhando no desenvolvimento de 12 (doze) projetos [link para planilha], que se relacionam tanto com a criação de soluções inovadoras quanto com a manutenção e refatoramento de soluções já existentes.

Olhando retrospectivamente, é interessante perceber o quanto tivemos o privilégio da oportunidade de experimentar, no momento mais difícil da pandemia, toda a gestação desse processo de inovação. Agora precisamos conseguir estruturar melhor nosso espaço físico e nossa infraestrutura, para dinamizar e facilitar o desenvolvimento de iniciativas como o iSUS, que já foi prospecção, tornou-se um produto e já é reconhecido como política pública que gera outras formas de captação de recursos para a Escola, quando outros setores da Secretaria da Saúde se tornam continuamente parceiros para sua apropriação e utilização.

Esse reconhecimento também vai ser muito importante para o aprendizado e amadurecimento nas próximas etapas do NIT, agora já dentro da institucionalidade tão importante e necessária.

 

Bons ventos de Alice

 

Eu estava tão sobrecarregado pela responsabilidade com a estruturação da política de inovação e com o desenvolvimento dos projetos que tornou-se também essencial buscar parcerias internas, e a mais impactante delas foi sem dúvida a chegada da Alice Pequeno para coordenar as atividades de institucionalização do Núcleo de Inovação Tecnológica, enquanto eu sigo mais focado na coordenação das atividades de pesquisa e desenvolvimento de soluções disruptivas e inovadoras. Alice já era responsável pelo Nucit – Núcleo de Ciência, Inovação e Tecnologia, que foi deslocado da Sesa para a Escola, em 2019. Essa fusão consolida a potencialização de outros vários projetos e processos, como a estruturação da Rede Estadual de Pesquisa Clínica do Ceará, da Rede de Bibliotecas do SUS no Ceará e o Programa de Pesquisa para o SUS.

É importantíssimo dizer que essa união nos deixou muito felizes, tanto pela pessoa maravilhosamente doce e generosa que é Alice, quanto pela competência e amplo histórico na saúde e na Escola que ela traz, tornando possível dividir melhor as atividades e torná-las ainda mais estratégicas e complementares. Uma união que tem a cara da visão integrada e transversal do SUS e da inovação da gestão pública, integração que tem sido muito difícil dentro da própria ESP e na cultura da gestão pública de maneira geral. Contar com uma pessoa como Alice é um privilégio enorme, e juntos vamos ampliar a capacidade de implementação das estratégias de inovação.

Esse é o desenho da Escola como ICT e é isso que nos coloca na possibilidade de comemorar a promulgação da lei de oficialização dessa conquista. É interessante perceber que na ESP, ao contrário de alguns lugares em que primeiro se aguarda a promulgação para depois investir na execução das atribuições, essa ICT já nasceu com um portfólio de projetos, com royalties a receber, com um contrato de licenciamento a celebrar, e com outros contratos a serem desenvolvidos. E essa é uma grande vitória coletiva, de todos nós, que fazemos a Escola e que fazemos o SUS no Ceará.

Sigamos firmes, fortes, e certos de que estamos no melhor caminho possível. É um momento histórico de muitas convergências e mudanças.

E repito o que sempre tenho dito: sou muito feliz por estar com todes vocês nisso.